Trump promete 'transição ordeira' após vitória de Biden ser confirmada
Após invasão, Congresso dos EUA
confirmou a vitória de Biden
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após o Congresso dos EUA confirmar a vitória do democrata Joe Biden nas eleições de novembro em uma sessão histórica
marcada por cenas de violência no Capitólio, Donald Trump prometeu na manhã
desta quinta (7) que "haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro",
o dia em que ele deixará a Casa Branca.
Trump desiste de reverter o resultado das urnas um dia depois de insuflar uma multidão de apoiadores a invadir o Capitólio, a sede do Legislativo, em um ataque à democracia americana.
"Embora eu discorde
totalmente do resultado das eleições, e os fatos estão do meu lado, ainda assim
haverá uma transição ordeira em 20 de janeiro", disse Trump em um
comunicado publicado no Twitter de seu diretor de redes sociais, Dan Scavino,
uma vez que plataformas de internet bloquearam temporariamente a conta do republicano
após os episódios de violência registrados nesta quarta.
"Sempre disse que
seguiríamos nossa luta para garantir que apenas os votos legais fossem
contados. Ainda que isto represente o fim do maior primeiro mandato na história
presidencial, é apenas o começo da nossa luta para fazer a América grande outra
vez", escreveu Trump, mencionando o slogan de campanha.
A confirmação dos votos do
Colégio Eleitoral pelo Congresso era a última etapa processual antes da posse
de Biden. No entanto, o ritual de transição pacífica de poder, geralmente
protocolar, foi ameaçado quando extremistas interromperam a sessão e forçaram
os legisladores a procurar abrigo.
A invasão aconteceu poucos
minutos depois de o próprio presidente americano, durante manifestação na
capital do país, Washington, insuflar ativistas a se dirigirem até a sede do
Legislativo.
O Capitólio viu um cenário de
caos. Ao menos quatro pessoas morreram na região do Capitólio durante os
enfrentamentos, entre as quais uma mulher baleada por um agente de segurança.
Outros três óbitos foram registrados em decorrência de "emergências
médicas", segundo a polícia de Washington.
Jornalistas foram trancados num
porão, pessoas fantasiadas de vikings confrontaram assessores e testemunhas
dizem ter sentido cheiro de fumaça dentro do prédio. Os manifestantes
carregavam símbolos de extrema direita e bandeiras dos EUA, além de faixas da
campanha presidencial de Trump.
De acordo com o chefe do
departamento de polícia de Washington, Robert J. Contee, 52 pessoas foram
presas, 47 delas por desrespeitar o toque de recolher em vigor desde as 18h
locais (20h em Brasília).
Após as forças de segurança
retirarem os invasores do local, em ações que também deixaram vários policiais
feridos, de acordo com a imprensa americana, os congressistas puderam retomar
os trabalhos.
A sessão seguiu durante a
madrugada de quinta, pois aliados de Trump no Congresso apresentaram objeções
em uma tentativa de invalidar o resultado das urnas no Arizona e na
Pensilvânia.
Nas duas Casas, o placar das
votações arruinou qualquer esperança de que as contestações resultassem em
alguma mudança na vitória de Biden. O questionamento aos votos do Arizona foi
rejeitado com placar de 303 a 121 na Câmara e 93 a 6 no Senado. A objeção aos
delegados da Pensilvânia perdeu por 282 a 138 entre os deputados, e 92 a 7
entre os senadores.
A escalada da violência isolou
Trump dentro de seu partido. Membros de seu governo, bem como congressistas da
oposição e organizações empresariais, chegaram a discutir medidas para retirar
Trump do poder antes dos 13 dias que faltam para o término de seu mandato.
Os democratas do Comitê
Judiciário da Câmara enviaram uma carta ao vice-presidente Mike Pence
argumentando que a conduta recente do presidente se enquadra na hipótese
prevista na 25ª Emenda da Constituição dos EUA, que permite que um presidente
seja removido caso seja considerado incapaz de seguir no cargo pelo
vice-presidente e pela maioria de seu gabinete.
Para invocar o dispositivo
constitucional, o vice deve comunicar por escrito ao comando do Congresso que o
titular está incapacitado. Em seguida, ele assume imediatamente a Presidência
de forma interina.
O titular do cargo, porém, pode,
a qualquer momento, enviar uma carta ao comando do Congresso para questionar a
decisão, o que dá quatro dias para o vice e o gabinete se posicionarem.
Se eles não se manifestarem nesse
período, o presidente volta ao cargo normalmente. Mas, se o grupo novamente
informar ao Legislativo que o presidente segue incapacitado, o caso terá que
ser resolvido pelos deputados e senadores -seria necessária uma maioria de dois
terços em cada Casa para que o presidente seja afastado.
Pouco antes da invasão, o próprio
Pence, assim como líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell,
romperam publicamente com Trump por rejeitarem sua tentativa de impedir a
confirmação do resultado das eleições.
"Àqueles que criaram caos na
nossa capital hoje: vocês não venceram. A violência nunca ganha", disse
Pence ao retomar a sessão de certificação, referindo-se aos extremistas que
invadiram o Capitólio.
Os três últimos antecessores de
Trump na Casa Branca também condenaram o que se viu na capital americana nesta
quarta. "Momento de grande desonra e vergonha ao nosso país",
escreveu o democrata Barack Obama em um comunicado publicado no Twitter.
O republicano George W. Bush,
referindo-se à invasão do Congresso, disse que "é assim que os resultados
são disputados em uma república de bananas" e, sem mencionar Trump,
afirmou estar "chocado com o comportamento imprudente de alguns líderes
políticos desde as eleições" de 3 de novembro.
O ex-presidente democrata Bill
Clinton também se manifestou sobre o ocorrido, chamando a invasão do Capitólio
de um "ataque sem precedentes ao país". "O ataque foi
incentivado por mais de quatro anos de política venenosa espalhando informações
falsas, semeando desconfiança em nossos sistema e colocando americanos uns
contra os outros", escreveu.
Após os incidentes desta quarta,
ao menos três importantes funcionários da Casa Branca anunciaram suas demissões.
De acordo com a CNN americana, Matthew Pottinger, vice-conselheiro de segurança
nacional, Anna Cristina Niceta, responsável pelo cerimonial da Casa Branca, e
Stephanie Grisham, chefe de gabinete da primeira dama Melania Trump e
ex-porta-voz do governo, já deixaram seus cargos.
Chris Liddell, vice-chefe de
gabinete de Trump, e Elaine Chao, secretária dos Transportes, também estariam
considerando abandonar o governo, segundo diferentes veículos da imprensa
americana.
Noticia: noticiasaominuto
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