Brasileiro fala sobre diferenças
culturais entre o Brasil e os Estados Unidos
O gaúcho Pedro Girardi está no
Carleton College e fala, em sua coluna, sobre o que muda na alimentação e nos
costumes de quem vai estudar fora
Por Pedro
Girardi
Este mês, quero falar sobre
algumas das diferenças culturais entre o Brasil e os Estados Unidos. Meu objetivo
aqui não é dizer qual a “melhor” cultura ou país, mas mostrar algumas coisas
que devem ser levadas em conta por quem quer morar fora. Também vale ressaltar
que eu moro nos EUA há alguns meses e não conheço todos os estados (nem daqui
nem do Brasil). Por isso, é possível que haja pessoas discordando de mim.
Organização e ordem
[Nos Estados Unidos] O respeito é
tão grande que eu, acostumado com a realidade brasileira, (ainda) fico pasmo
quando carros param na placa “Pare”.
No Brasil, eu estava acostumado a
encarar leis e normas como algo opcional. Quase ninguém para na faixa, respeita
fila ou horário de silêncio. Todo mundo se enxerga como um caso à parte: fura
fila porque está com pressa, estaciona na vaga de deficiente porque já vai
estar de volta e põe música alta porque, afinal, é festa de aniversário.
Consequentemente, sempre tem alguém burlando alguma lei e passando os outros
para trás.
Nos Estados Unidos, sinto que há
um respeito maior pelas leis. O respeito é tão grande que eu, acostumado com a
realidade brasileira, (ainda) fico pasmo quando carros param na placa “Pare” e
quando uma multidão se organiza e se enfileira em uma fração de segundo. Isso
pode ser até estranho ou incômodo de vez em quando, mas torna a minha vida
muito mais fácil em 99% das ocasiões.
Alimentação
Eu morava no Rio Grande do Sul,
estado conhecido por produzir ótimos cortes de carne, frutas e sobremesas.
Minhas refeições eram bem balanceadas e quase sempre de alimentos frescos,
feitos na hora e plantados a poucas horas de distância. Até mesmo as refeições
menos saudáveis, como um cachorro quente ou churros do centro da cidade,
levavam ingredientes naturais e eram preparadas na minha frente.
Isso mudou 110% quando vim para
os Estados Unidos: a maioria das refeições têm ingredientes que viajaram de
outros continentes (estão quase sem gosto) e tem pouco preparo. Aparentemente,
as pessoas não ligam para isso e, quando têm oportunidade, fazem ainda mais
comida pré-preparada, como o “clássico” Mac and Cheese (macarrão com
“quejo” pré-pronto que daria calafrios nos meus antepassados italianos) e tomam
litros de refrigerante por dia. Eu, pessoalmente, sinto muita saudade da comida
brasileira.
O contato
interpessoal
No Brasil, praticamente todo
momento é uma oportunidade para conhecer alguém novo e dar risada. Aqui, a
situação é bem diferente.
No Brasil, qualquer situação é
motivo para bater papo. Pode ser a fila do metrô na segunda-feira ou o caixa
demorado no supermercado – sempre há alguém para conversar sobre assuntos que
vão de meteorologia a futebol. A pessoa já pode chegar dando tapa nas costas,
dividindo pacote de salgadinho e ainda se despedir com beijo na bochecha.
Consequentemente, praticamente todo momento é uma oportunidade para conhecer
alguém novo e dar risada.
Aqui, a situação é bem
diferente. As pessoas prezam muito pelo seu espaço e individualidade. Na fila
do supermercado, nem ouse olhar para a pessoa na sua frente, ou será tido como
“weird” – ou estranho. Os comuns abraços e beijinhos brasileiros são
inexistentes aqui, mesmo entre amigos. Dependendo do ambiente, é necessário um
conjunto pré-estabelecido de perguntas para iniciar uma conversa: de onde você
é, o que estuda e qual sua class? Se, por um lado, a formalidade
americana pode ser útil para evitar pessoas inconvenientes, por outro, eu sinto
falta do “calor” brasileiro.
*Foto:
Carleton College
Sobre o
autor
Pedro Girardi é aluno de graduação do Carleton
College, nos Estados Unidos, onde pretende se formar economia e política.
Durante o ensino médio, envolveu-se em diversos projetos nessas áreas, sendo
seu preferido a participação em Simulações das Nações Unidas. Por meio de
atividades extracurriculares, descobriu que adora lidar com pessoas e ajudá-las
a desenvolver suas habilidades. Quer ser professor e pesquisador.
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