Crescimento
da energia eólica se consolida no Brasil
Por RFI
Publicado
em 01-09-2016 Modificado em 01-09-2016 em 15:24
Um ar de prosperidade no setor de energias
renováveis sopra com força no Brasil. Os últimos dados da Câmara de
Comercialização de Energia indicam um crescimento de 55% da geração de energia
eólica no país no primeiro semestre deste ano. Em expansão, o setor responde
por 7% de toda a energia produzida no país.
A participação ainda está muito
atrás das hidrelétricas, que despontam com mais de 60%, seguidas pelas
termelétricas, uma das fontes mais sujas de energia. As perspectivas são
animadoras quando se pensa que o potencial eólico do país ainda é subavaliado,
como ressalta Ildo Sauer, especialista em energias renováveis da Universidade
de São Paulo (USP).
“O Brasil vai ter que rever o
quadro regulatório, os investimentos em pesquisa do potencial eólico e sua
avaliação, para que a gente consiga fazer primeiro os melhores projetos. Hoje,
a medição de vento é considerada um segredo empresarial, por isso não estamos
seguindo a sequência dos melhores projetos e de menor custo primeiro. Estamos
seguindo os que atendem aos interesses de certos grupos econômicos”, destaca
Sauer, que é ex-diretor da Petrobras. “Nós temos recursos: falta organização,
planejamento e gestão. Só isso.”
Atualmente, o setor está
consolidado no Sul e no Nordeste do Brasil, regiões com os melhores ventos. Mas
Sauer destaca que áreas ainda pouco exploradas podem ser promissoras.
“O potencial de São Paulo, por
exemplo, é inferior, mas não é desprezível. Tem outras regiões do Brasil, no
Centro-Oeste, como no Tocantins, Goiás, no planalto”, afirma. “Há mapas eólicos
menos favoráveis, mas não desprezíveis. Eles só precisam ser melhor avaliados.”
O aumento da produção no primeiro
semestre se deve à ampliação da capacidade instalada das 400 usinas. Sauer
indica que o desenvolvimento tecnológico fez com que o potencial estimado
passasse de 140 mil MW para 300 mil MW. Esse valor, no entanto, ainda pode ser
bem maior e depende da realização de estudos aprofundados.
Tecnologia aumenta o potencial de
produção e diminui os custos
Nesta semana, o maior evento
latino-americano do setor, o Brazil Windpower, reúne as gigantes das eólicas
para apresentar os últimos lançamentos. Na feira, que ocorre no Rio de Janeiro,
a Dois A Tower System, do Rio Grande do Norte, mostra um projeto inovador para
reduzir o peso e a espessura das torres e elevar em até 300% a resistência à
compressão.
Desta forma, as geradoras podem ser
ainda mais altas, com maior potencial de produção de energia. O projeto é feito
em parceria com a multinacional Lafarge Holcim S.A.
“Buscamos que novos aerogeradores
mais potentes e mais altos possam ser instalados no mercado brasileiro, gerando
mais competitividade para os empreendedores e reduzindo o custo da energia
gerada”, explica o gerente de Operações da Dois A Tower System, Felipe Vieira
de Castro. “Como os ventos entregam mais energia a maiores alturas, os parques
eólicos terão necessidade de menos aerogeradores para a mesma quantidade de
energia. Obviamente, também reduzem o impacto ambiental desses parques, uma vez
que a necessidade de utilização do solo diminui.”
Mais consciência ambiental
Para Castro, o grande desafio do
setor no Brasil é aperfeiçoar as redes de linhas de transmissão, especialmente
no Nordeste. Ele indica que, num país onde as hidrelétricas reinam, as
barreiras para a expansão da energia eólica estão caindo.
“O Brasil passa por um processo
cada vez maior de conscientização. Os cidadãos têm muito claro que a energia
eólica é muito menos agressiva do que as outras, como a termetétrica ou a
hidrelétrica”, constata. “Entendo que é um caminho sem volta, uma trilha que o
Brasil traçou e deve continuar por ela, para garantir não só o abastecimento de
energia para o país, como garantir que ela terá o menor impacto ambiental
possível.”
Ildo Sauer observa que o Brasil
se beneficiou da redução dos custos das plantas eólicas nos últimos anos,
depois que o setor se desenvolveu na Europa e nos Estados Unidos. A crise nos
países desenvolvidos foi outro fator – as indústrias acabaram “desovando”
projetos em países emergentes e com potencial, com custos atraentes.
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