Por que as melhores universidades apostam em empreendedorismo social?
Entre as instituições de destaque surgem cada vez mais programas
voltados para impacto social, em carreiras de negócios, engenharia e
administração.
Por Priscila Bellini
As universidades que encabeçam rankings como o QS e
o Times Higher Education têm muito em comum. Em algumas delas, o foco em
pesquisa faz a diferença. Em outras, a qualificação do corpo docente permite a
subida ao pódio. Mas, recentemente, outro ponto também tem se destacado entre
as bem avaliadas: a oferta cursos que se voltem para iniciativas de impacto
social.
Em especial nas escolas de Negócios,
Economia e Engenharia, essas instituições se debruçam sobre os desafios de
realizar a mudança social e transformar a vida das pessoas. Os cursos
oferecidos vão de empreendedorismo social, para quem pretende desenvolver ou
aperfeiçoar projetos como start-ups, até
gestão de organizações não-governamentais e sem fins lucrativos.
São propostas que têm tudo a ver com a forma como
muitos jovens desejam conduzir a carreira. “A geração de hoje em dia não quer
deixar seus valores de lado na hora de escolher uma carreira. Trabalhar com
algo que esteja atrelado aos seus ideais é importante e as pessoas estão
dispostas a renunciar aos salários mais altos para conseguir isso”, explica a
diretora do Center for Social Innovation de Stanford, Bernadette Clavier.
Outro ponto essencial é a tendência, nessas
universidades de prestígio, de se preocupar em trazer valores e métodos do empreendedorismo
social para as formações tradicionais. É o caso do Skoll Centre for Social
Entrepreneurship, na Universidade de Oxford, que ocupa o sexto lugar no ranking
QS em nível mundial. “Nós também acreditamos na responsabilidade dentro da área
de negócios, e no nosso compromisso em desenvolver líderes responsáveis, que
percebam a necessidade de fazer a diferença”, destaca Andrea Warriner, que
gerencia o programa de desenvolvimento de talentos do centro, dentro da Saïd
Business School, da Universidade de Oxford.
Conheça alguns dos programas do tipo oferecidos nas
universidades que lideram os rankings.
Skoll Centre for Social
Entrepreneurship, em Oxford
Este centro da Saïd Business School
concentra as iniciativas voltadas para impacto social, que vão desde matérias
em inovação na área da saúde até social finance. Como
Warriner destaca, o objetivo do centro é fazer com que, no futuro, o
empreendedorismo social não precise ser estudado à parte e considerado um outro
tipo de oportunidade, e sim que as empresas e outras instituições tenham
arraigados valores positivos. “O que a universidade espera é que os estudantes
exijam cada vez mais que as organizações onde trabalham repensem seu impacto
social e ambiental — seja um banco, uma consultoria, o que for”, explica
Andrea, que trabalhou em organizações como a Africa Health Placements, focando
nos desafios na área de saúde no continente africano.
O que a universidade espera é que os estudantes exijam cada vez mais que
as organizações onde trabalham repensem seu impacto social e ambiental — seja
um banco, uma consultoria
Entre as oportunidades oferecidas aos que se
interessam pela área de empreendedorismo social dentro dos programas de
mestrado e MBA está o Global Challenge. É uma iniciativa que permite aos estudantes
e recém-formados da universidade escolher um tópico global e examinar o cenário
por trás dele, para depois elaborar propostas de resolução.
Além disso, todos os estudantes de MBA na Saïd
Business School participam do GOTO (Global Opportunities and Threats: Oxford),
um programa que apresenta os principais desafios aos negócios nos próximos 25
anos. Entram na lista de temas o envelhecimento da população, escassez de
recursos naturais e mudanças na força de trabalho de vários países.
Center for Social Innovation, em Stanford
A universidade americana ocupa o terceiro lugar no
ranking QS e oferece diferentes oportunidades para quem quer focar a carreira
em impacto social. A abordagem de Stanford adapta cursos de empreendedorismo
mais tradicionais e recebe os estudantes focados na área social, além de
dedicar várias matérias eletivas para empreendedores sociais.
Como a diretora do centro destaca,
não é necessário ter liderado um mega projeto social antes para embarcar numa
oportunidade dessas em Stanford — basta um interesse na área e, claro, uma boa application. Uma vez aceitos, no caso dos MBAs com foco
na área social, os estudantes passam por matérias básicas da área de
empreendedorismo e podem participar de aulas voltadas para contextos sociais e
análise de casos de sucesso, mas também têm aulas mais práticas, com foco em
desenvolvimento de projetos.
Entre as disciplinas está a de “Entrepreneurial Design for
Extreme Affordability”, que é voltada para a área de projetos e
combina aspectos de engenharias e negócios. A ideia é que os alunos, divididos
em grupos de trabalho, tenham contato com o desenvolvimento de protótipos,
planos de negócio e tecnologias que sejam voltados para países em
desenvolvimento e populações mais pobres.
Center for Social Sector Leadership, em Berkeley
Dentro da Haas Business School, em Berkeley, a
proposta de pensar o empreendedorismo social já é bastante consolidada. O
currículo oferecido contempla desde a micro até a macroeconomia, o
reconhecimento de problemas e a elaboração de soluções e inovação aplicada.
A partir daí o aluno pode “desenhar” o próprio
currículo com uma lista de matérias voltadas para a sua especialização. Pode
ser a oportunidade de ouro para estudar os desafios ambientais, ou mesmo
entender a relação da área social com políticas públicas. Com essa
flexibilidade, é possível aprofundar o conhecimento nas áreas de interesse e
aproveitar as atividades fora da sala de aula oferecidas pela universidade.
Um dos programas de destaque é a Global Social Venture
Competition (GSVC), em que os alunos identificam problemas
sociais e desenvolvem soluções específicas, depois de analisar o cenário. Os
vencedores levam 50 mil dólares para tirar a proposta do papel e colocá-la em
prática.
Foto: Programa do Center for Social
Innovation de Stanford / Crédito: Divulgação
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